Andava tão sozinho que por vezes esquecera-se de fazer-se companhia. Parece absurdo, mas a solidão era para si como um acessório qualquer, como um relógio que trazia no pulso, ou os óculos da face. Era algo tão seu, tão próprio, que não se incomodava de assim estar.
Certa vez, num dia de claro, agradável, em uma de suas caminhadas pelo parque pôs-se a admirar, não sabia bem o que olhava, era tudo tão normal. Havia beleza, claro, mas nada espetacular, nada que fosse digno de mais que cinco minutos de atenção, ainda assim se demorou. Eram longos minutos, podia sentir, mas não cabia naquele momento preocupação com o tempo, nada mais importava se não seus devaneios.
Seus pensamentos iam longe, milhas e milhas distantes, não tinha um foco, era uma estrada tortuosa, cheia de transversais e paralelas, cruzamentos embaralhados, e nessa bagunça toda se perdia, mas encontrava-se. Levemente alteou o canto da boca num gesto que lembrara um meio sorriso, ao passo que inclinava a cabeça e levantava o olhar, certamente tinha encontrado algum pensamento digno de um sorriso. Talvez não isso, era de costume, tinha lá essas manias excêntricas, sorria quando não sabia como se portar, ou por enxergar seus atos ridículos.
Reprimiu seu ar espontâneo, e se deu conta de que estava mais feliz, mais leve, sentia-se bem. Não tinha mudado em absolutamente nada, só se deu conta que a tempos não mais tinha se dado a crises existenciais, e foi tudo tão gradativo que só agora se deu conta. Percebeu também que tinha dado um tempo em sua carência desenfreada, seus estúpidos ciúmes. Sorriu um sorriso inteiro, daqueles em que dá tempo de contar todas as cáries dos dentes. Percebeu-se feliz mais uma vez, e não se reprimiu. Pessoas passavam, olhavam, apontavam, e ele ali, inerte, como que nada acontecesse. Ele bem sabia que estava virando ponto turístico do parque, mas não se incomodou. Mais uma vez se espantou ao não se importar com o que pensavam ou falavam de sua pessoa. Foi então que explodiu de felicidade, mesmo já estando ciente de tantas coisas, não se sentia diferente, apenas mais leve.
{...}
E só agora se lembrou da “solidão”, ora que expressão mais inapropriada. Estava sozinho, mas não se sentia só, fazia-se companhia. E quando se indagou sobre o amor, na ponta da língua: o amor próprio. E naquele ping pong esquizofrênico, não se sabia onde iria chegar. Respostas, perguntas, possuía os dois.
_ Ei! Oie... Tá surdo?!
_ Ah, oi, desculpa, tava em outro mundo...
_ É deu pra ver. Então vamos?
_ Vamos
Sua companhia daquela tarde tinha chegado, não estava mais sozinho. Com ela, de fato não estaria, nem que quisesse. Sua luz preenchia todos os espaços trevosos que restavam, até o sol retraia-se com sua beleza. De fato, quem não se encantaria?! E como se um de seus desenfreados neurônios gritasse: “Eureca”, e como se lâmpadas fluorescentes acendessem em sua cabeça, parou. Inclinou-se a ela, e com feição de dúvida e espanto, chocou-se. Em um instante apenas se deu conta que se apaixonou por um sorriso. E ali o mar, a areia, o céu e as estrelas eram testemunhas de que a vida é um ciclo.
BELA POESIA EM FRASES!
ResponderExcluirTexto lindo! De verdade,cara... achei lindo, puro sentimento, descrição e narrativas impecáveis!
ResponderExcluirEscrevo sobre solidão, relacionamentos e afins... se quiser, dá uma passadinha lá
http://planetabandonado.blogspot.com
Se apaixonou por um sorriso... :x eu acho que já vi isso em algum lugar!
ResponderExcluirO que será a solidão? E o que será sentir-se bem consigo mesmo?
ResponderExcluirTextos cada vez melhores...
Simplesmente lindoo! Lembra-me uma época boa de minha vida. Qdo eu voltar à Terra qro voltar a escrever assim...
ResponderExcluirJa te disse antes, vc tem O dom!
Encantador. Muito bonito!
ResponderExcluir"se apaixonou por um sorriso"
Pois é, repleto de sentimento mesmo.
Valeu a pena esperar pelo seu proximo post rs
Que lindo *-*
ResponderExcluirFoi tão bonito esse paragrafo final! Adorei *-*
Muito interessante a forma como se expressa, tudo é de uma linda simplicidade e sensatez! te sigo!
ResponderExcluirum belo poema em linha reta, diria.
ResponderExcluirobrigado por visitar meu blog. estarei acompanhando o seu tb
abraços
Que texto sentimental, belo, singelo.. .realmente ninguém escapa dos ciclos, nao mesmo...
ResponderExcluirbjitos, moço
http://www.peqeunosdeleites.blogspot.com
Aaahh...
ResponderExcluirEu fiz um comentário tããão lindo!
Mas se perdeu por aqui
=/
Fiquei triste agora...
Mas era basicamente dizendo que essa história de solidão,autoconhecimento,companhia,paixão e sorrisos eu já conheço bem.
Pq essa é a nossa história
E é maravilhoso ver tudo sendo retratado dessa forma por vc...
Que ver a nossa ligação, a nossa inexplicável,inentendível,'indizível',indecifrável,inigualável,interminável,intrigante,intensa e indescritível relação sendo traduzida em palavras (vã tentativa,é verdade,justamente por suas indefinições - da relação e do autor,diga-se de passagem,ou dos autores,melhor dizendo,pois nada que se escreve tem autoria única) é algo tão impossível de definir quanto ela própria!
Eu amo você!
E nem vou dizer que sei porquê você escreveu o Eureca :P